quinta-feira, 30 de abril de 2009

A nova realidade do jornalismo (Ciberjornalismo)

A Internet e as suas potencialidades trouxeram uma nova face ao jornalismo. Com o aparecimento desta rede o jornalismo passou a fazer-se de uma forma bidireccional, isto é, temos profissionais que se dedicam à emissão de notícias e um público que as recepciona de forma crítica. Mas não quero com isto dizer que qualquer pessoa pode fazer jornalismo, ou se esta actividade tem os seus dias contados.

Em primeiro lugar, é importante perceber o tipo de consequências resultante desta interacção entre jornalista e leitor. “A possibilidade de interacção directa com o produtor de notícias ou opinião é um trunfo forte a explorar pelo webjornalismo.” (cit. Canavilhas, 2001). De facto, esta interactividade, possível com a tecnologia existente, apresenta-se como a grande força do jornalismo online. No entanto, esta força pode, ao mesmo tempo, constituir um grande perigo para a actividade jornalística, no que diz respeito ao seu futuro.

Em segundo lugar, e face a esta novidade no trabalho dos jornalistas, importa realçar as novas aptidões que estes profissionais têm que começar a desenvolver. Hoje em dia, e como nos diz Elisabete Barbosa no seu estudo (Interactividade: A grande promessa do Jornalismo Online), “a maioria dos jornalistas e editores não podem contentar-se em publicar as notícias”, isto é, os jornalistas têm que ter em conta o que o público pretende e publicar as suas notícias ou reportagens de acordo com isso.

Além disso, estes profissionais têm que desenvolver outras aptidões, como, por exemplo, “redigir notícias, produzir fotografia, áudio e vídeo, construir páginas web, transpor conteúdos impressos ou audiovisuais para a rede, acrescentar hiperligações, fornecer interfaces que permitam aos utilizadores o recurso a bases de dados diversas e desenvolver comunidades online” (Bastos, 2006).

Estas novas exigências ainda não receberam, pelo menos por parte das Universidades portuguesas, o devido tratamento na formação dos novos profissionais. Como nos diz Hélder Bastos, pioneiro nestas questões que ligam a Internet com o jornalismo, “ (…) o modelo de ensino universitário encontra-se ainda distante de uma tendência visível de uniformização a começar pelo peso das disciplinas relacionadas com ciberjornalismo em cursos de jornalismo e/ou ciências da comunicação (…) ”.

A formação dos novos jornalistas portuguesas acaba por espelhar o nível de desenvolvimento em que se encontra o ciberjornalismo em Portugal. O mesmo autor acima citado sublinha-nos que “a primeira década de ciberjornalismo em Portugal fica marcada por uma progressão lenta, porventura demasiado lenta (…). Dez anos depois do início da aventura online do jornalismo Português (…) a palavra impasse talvez seja a mais indicada para fazer o ponto da situação.” (Bastos, 2006)

A Internet, como fonte de informação é outro factor a ter em conta. Porventura um dos mais importantes, quando nos debruçamos nesta questão do impacto da Internet no jornalismo. De facto, esta ferramenta possibilitou ao jornalismo uma informação mais vasta e mais rápida, eliminando, assim, as barreiras de espaço e de tempo. No entanto, e apesar de todas estas vantagens, a Internet assume-se, em alguns casos, uma fonte corrompida.

Deste modo, importa perceber os riscos que esta plataforma deposita na actividade jornalística. O excesso de informação que a Internet disponibiliza aos jornalistas assume-se como o primeiro grande risco. Face a este excesso, o jornalista tem que desenvolver novas capacidades ao nível da recolha, da selectividade e da apresentação final das notícias. Através de todo este processo o profissional consegue contornar este potencial risco.

Uma controvérsia ligada ao ciberjornalismo reside no facto de haver quem compare o ciberjornalismo com a funcionalidade dos blogues. Muitos questionam-se se será possível praticar-se jornalismo num blogue? Apesar de ambos apresentarem funções muito similares como, por exemplo, a actualização, links, comunidades interactivas, a verdade é que estes dois domínios abarcam muitas outras características distintas.

Uma dessas características diz respeito à isenção. De facto, os blogues figuram como espaços onde a opinião e a subjectividade assumem o seu expoente máximo, o que contradiz com a essência do jornalismo. Apesar disso, alguns blogues podem constituir uma boa e fiel fonte de informação, nomeadamente quando os seus autores escrevem sobre uma temática específica, os designados “blogues especializados”.

Por outro lado, podemos reservar aos blogues um papel importante do ponto de vista da formação da opinião pública. Com a convergência dos meios de comunicação «o conceito “de um para muitos” começa cada vez menos a fazer sentido»
[1], o que nos leva para o campo interactivo, marcado pelas gratificações do receptor. Tal situação deve-se à função observadora e comentadora presente nos blogues, o que faz crescer o designado “jornalismo do cidadão”. De qualquer forma não podemos confundir a prática jornalística com o trabalho desenvolvido pelos bloguers.

A última questão a tratar acerca do impacto da Internet no jornalismo diz respeito ao futuro desta actividade. Face a múltipla informação que a Internet disponibiliza a todas as pessoas, não estaremos a preconizar o fim do jornalismo? Os estudiosos dividem-se. Uns defendem que o jornalismo online terá práticas iguais às actuais, com a excepção de se mover em plataformas diferentes e estar ao acesso de todos; enquanto outros admitem um cenário negro para o futuro desta profissão.

Apesar de toda esta controvérsia, uma coisa é certa: a Internet, e tudo o que ela envolve, veio potenciar ainda mais a necessidade de haver bons jornalistas. Isto porque face ao crescente fluxo informativo, por ela gerado, é imprescindível que existam profissionais capazes de seleccionar/tratar os conteúdos que realmente são importantes e credíveis.

[1]João Simão, “ Relação entre os Blogs e Webjornalismo”, in http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/9_joao_simao_prisma.pdf (visto em 23/04/2009)
Bibliografia:

· Simão, João “Relação entre os Blogs e Webjornalismo”, in
http://prisma.cetac.up.pt/artigospdf/9_joao_simao_prisma.pdf (acesso em 23/04/2009);

· Mielniczuk, Luciana “Características e implicações do jornalismo na Web”
http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2001_mielniczuk_caracteristicasimplicacoes.pdf (acesso em 23/04/2009);

Bastos, Hélder “Ciberjornalismo: dos primórdios ao impasse”, in
http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/cs_um/article/view/4752/4466 (acesso em 23/04/2009);

· Barbosa, Elisabete “Interactividade: A grande promessa do Jornalismo Online”, in
http://www.bocc.ubi.pt/pag/barbosa-elisabete-interactividade.html (23/04/2009);

· Bastos, Hélder “ Da implementação à estagnação: os primeiros doze anos de ciberjornalismo em Portugal”, in
http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom_iberico09/paper/viewFile/253/230 (acesso em 25/04/2009);

· Canavilhas, João Messias “Os Jornalistas Portugueses e a Internet”, in http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-jornalistas-portuguesesinternet.html (acesso em 23/04/2009)

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